Entrevista exclusiva com Prof. Dr. Gabriel Albuquerque sobre o livro "Deus, Amor, Morte e as atitudes líricas na poesia de Hilda Hilst", que será lançado neste sábado

 

Deus, Amor, Morte e as atitudes líricas na poesia de Hilda Hilst, é o título que dá vida ao livro escrito pelo Prof. Dr. Gabriel Albuquerque, que será lançado neste sábado, na Livraria Valer, às 10h. O livro trata de forma ímpar a poesia emblemática e intensa do caráter indomável de HIlda Hilst.

O trabalho de Gabriel Albuquerque é um tributo à obra singular de Hilst, que nem sempre recebeu da crítica a atenção merecida, sendo objeto de culto de um círculo limitado de leitores e estudiosos de sua produção poética, como Sérgio Buarque de Holanda, Sérgio Milliet e Anatol Rosenfeld.

Hilda Hilst viveu de forma intensa e incondicional o milagre de ser-no-mundo. Experimentou os dilemas, angústias e a volúpia de existir.  O fundamental é que não passou sem descobrir o selvagem coração da vida, ainda que tenha sofrido e purgado de forma profunda suas dores e a solidão. Mas, como dizia o filósofo Søren Kierkegaard: “Ame profunda e apaixonadamente. Você pode sair ferido, mas essa é a única maneira de viver a vida completamente. Hilda viveu sem medo e, por isso, desvelou a face do mundo...” a face de Deus. O testemunho disso é a sua poesia, evocada neste livro delicado e sincero do professor Gabriel Albuquerque.

 

Confiram abaixo a entrevista exclusiva com o autor:

 

1.    Por que você escolheu entre outras escritoras a Hilda Hilst?

Creio que, na verdade, ela me escolheu. Quando, no doutorado, tive que definir o corpus da pesquisa, pensei em fazer um trabalho sobre o conceito de poesia menor e a idéia sobre poetas menores no Brasil. Entre muitos nomes apareceu o de Hilda Hilst. Lendo um ensaio de T. S. Eliot, percebi que Hilda não era menor, era, sim, uma poeta forte. Lembrei ainda que, muito jovem, havia lido de forma voraz os livros Com meus olhos de cão e Tu não te moves de ti, mas não havia lido a poesia de Hilda Hilst e me voltei para a leitura de seus livros de poesia. Pareceu-me, naquele momento, que havia um trabalho inteiro a ser feito e que poderia iniciá-lo. Foi ela que veio a mim e me impulsionou a descobri-la.

 

2.    As obras de Hilda Hilst são consideradas emblemáticas e que a crítica não valoriza tanto quanto deveria o trabalho da autora. O que devemos encontrar em Deus, Amor, Morte e as atitudes líricas na poesia de Hilda Hilst, para atrair, entender e apreciar a obra da autora?

A obra de Hilda Hilst ainda está sendo apreciada pela crítica e sua poesia apresenta uma série de imagens bastante complexas. Minha intenção foi, como intérprete, traduzir uma parte desse conjunto de mensagens cifradas sem perder o mistério do discurso lírico. Uma tarefa difícil, pois, como professor, preparei-me sempre para esmiuçar, esclarecer, explicar. Para mim, a poesia tem uma dimensão desafiante e misteriosa e, contudo, sendo linguagem, deve ter também a dimensão da comunicabilidade. Creio que o livro busca atar essas duas extremidades e que, quem se dispuser a lê-lo, encontrará essa síntese.

 

3.    Sabe-se que Hilda Hilst possui em suas obras um discurso poético totalmente humanizado e muito intenso. Foi por esse motivo à escolha do título Deus, Amor, Morte e as atitudes líricas na poesia de Hilda Hilst?

Não. Não foi exatamente isso. Minha intenção inicial ao ler o conjunto da poesia de Hilda Hilst era estabelecer fios condutores que possibilitassem ao leitor acompanhar minha proposta de leitura. Deus, amor e morte são, para mim, esses fios condutores, ou seja, temas centrais à obra da autora e que, dialogando com a alta tradição poética, deixam o conjunto da poesia hilstiana em um patamar bastante distinto da lírica brasileira moderna. É fundamental entender a voz de Hilda Hilst em um plano muito distinto no painel de nossa poesia. Sendo uma grande escritora, ela conquistou um timbre absolutamente pessoal no qual os três temas por mim selecionados são modalizados por aquilo que chamei de atitudes líricas.

 

4.    Para aquelas pessoas que ainda não conhecem as poesias e crônicas de Hilda Hilst, qual livro da autora você indicaria para uma primeira leitura?

Certamente Cascos e carícias é um livro que, se falamos das crônicas, seria muito útil para uma primeira aproximação com Hilda Hilst. Nele, aqui e acolá, encontram-se também poemas e excertos de sua narrativa que podem abrir caminho para leituras mais arriscadas.

 

5.    Defina a Hilda Hilst em uma palavra.

Dionisíaca.

 

Sobre o autor

Gabriel Arcanjo Santos de Albuquerque é mestre pela Universidade de São Paulo, com a dissertação Tradição e memória: a poesia de Luiz Bacellar em três movimentos, e doutorou-se pela mesma instituição, em 2002, com a tese Deus, Amor, Morte e as atitudes líricas na poesia de Hilda Hilst. Atua em três áreas distintas das humanidades: literatura brasileira contemporânea, narrativas orais e políticas públicas para promoção da ciência. É professor da Universidade Federal do Amazonas, onde leciona literatura brasileira e trabalha com tecnologias para a educação. É pesquisador do CNPq com o projeto Brasil, Brasis – insulamento e produção literária no Amazonas. Tem poemas publicados pela revista Teresa – USP e artigos, pelas revistas Literatura Brasileira Contemporânea – UnB e Estudos Portugueses e Africanos – UNICAMP. É organizador do primeiro Catálogo de Programas de Pós-Graduação – FAPEAM, instituição da qual foi pesquisador entre 2007 e 2008. Foi consultor da CAPES para projetos na área de formação e capacitação para uso das TICs e da FUNARTE, para a bolsa FUNARTE de estimulo à produção literária em 2007. No momento, orienta trabalhos sobre literatura brasileira contemporânea, narrativas orais e políticas públicas para uso das TICs.